Paulinho Rahs

Culpa. Culpa. Culpa.

Silêncio na noite.
Só o barulho de um relógio que parece se arrastar:
Tic. Tac.
Tic…
Tac…
E eu só ouço:
Culpa. Culpa.
Culpa…
Culpa…

Me sinto culpado por ter machucado tantas pessoas. Me sinto culpado até por coisas que não fiz. Por coisas que deixei de fazer.
Gostaria de pedir perdão, pedir desculpas. Olhar no olho e somente dizer:

– Eu não deveria ter te feito mal. Você não merecia. Desculpa. Desculpa.

Desculpa. Culpa…

Até isso me deixa mais culpado. Imagino por vezes que meu pedido de perdão talvez seja apenas uma maneira que a minha mente busca de me sentir melhor. Deveria ser de coração. Mesmo que eu nem seja perdoado. Não estou buscando ser desculpado. Estou apenas querendo pedir desculpas por achar que é o mínimo que alguém que foi canalha como eu fui deveria fazer.

É um peso gigantesco. Que me paralisa. Me mortifica. Me deixa sem forças pra fazer absolutamente nada direito.
Fraco durante o dia. Mente ligada na tomada durante a noite inteira. Dormir como? Se as paredes me sufocam. Se o quarto parece que fica menor. Se todas as vezes eu volto e erro, machuco, faço bobagem sem parar.

Dá um trabalho danado ficar preso dentro da minha mente. Num ciclo constante de pensamentos destrutivos, indigeríveis – como um bloco de concreto que eu não consigo quebrar.

Me sinto a pior de todas as pessoas. E quando tento desabafar com alguém recebo sempre o mesmo tipo de consolo, com um tapinha nas costas e me dizendo que eu não sou tão ruim assim. Que estou sendo muito duro comigo mesmo. Que isso é passageiro, momentâneo, que eu não preciso me cobrar tanto assim.

Mas não, eu não queria conselhos.
Apenas que alguém me ouvisse, respondesse somente com o olhar.
Me entendesse e me deixasse simplesmente falar sobre os erros que cometi, pessoas em que deixei cicatrizes que talvez nunca mais vão curar.

Não busco redenção.
Não quero nada mais.
Queria apenas ter a coragem de olhar nos olhos e dizer:
– Eu só quero me desculpar.

É.
Eu só quero um dia conseguir me desculpar.
Isso se a culpa me deixar…

Paulinho Rahs