Sem parar, olhando somente para frente, vivo mais um dia. Ficar remoendo o que passou não me cabe. Primeiro, que passado não é o que vai resolver o meu presente. Outra coisa é que muito provavelmente a culpa me engoliria. Então, sem remorso ou algemas do tempo que passou me prendendo, me sinto livre para seguir em frente.

O peso que carrego na consciência é gigantesco. Sabe aquelas coisas que a gente vive, mas prefere ignorar e deletar da memória? Dessas eu tenho centenas. São tantas que muitas não consigo nem relembrar direito. A mentira repetida muitas vezes não vira verdade. Apenas se mascara dela. E a minha mente já se tornou um amontado de máscaras sem fim.

Eu sei que sou feliz, mas não sei nem se mereço. De verdade, fico pensando, se eu não deveria pagar preços mais altos pelos erros que já cometi. Injustiça, hipocrisia, falsidade, autodestruição. Sim, o arrependimento sempre foi proporcional. Mas isso não apaga tudo que fiz sabendo que não era certo. Talvez, conviver com a própria consciência pesando seja mesmo um castigo.

Nem passado e nem futuro. Um é depressão. O outro é ansiedade. Me abraço então no presente. Me jogo de cabeça no precipício do agora. O que der para fazer hoje. Como eu puder ser melhor hoje. No que eu conseguir evoluir hoje. Sempre hoje. Só hoje. Deixa ontem na história. Deixa amanhã ser mistério. Só assim eu consigo viver com um pouco de paz.

O peso da consciência é mais pesado que tudo. Ele nos derruba, nos afunda, nos afoga, nos enterra. E é feroz e implacável, impossível de ganhar na briga. Eu já lutei contra ele e sempre perdi. Então, eu fugi. Sai correndo sem olhar para trás. Quebrei os retrovisores e acelerei pra bem longe. Enfrentar tá fora de cogitação. Já entendi que vou viver pra sempre como um fugitivo.

Paulinho Rahs

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