Se você pudesse voltar e consertar todos os seus erros
Você voltaria? Será que valeria a pena?
Será que mudaria a cena
que você vive agora no filme da sua vida?
Eu já perdi as contas de quantas vezes pensei em voltar no tempo.
Em apagar todas as pequenas coisas que eu deveria ter feito diferente.
Mas comecei a enxergar tudo
buscando olhar pra frente.
Entendi que não faz sentido.
Afinal, se eu pudesse desfazer todos os erros da minha vida
o que é que eu teria aprendido?
Como que eu poderia ter melhorado?
Pois o nosso maior professor
se apresenta sempre depois de termos errado.
Ele se chama “maturidade”
ou também atende por “experiência”.
Quem aprende pelos próprios erros
muda a sua essência.
Ué, e dá pra mudar a essência?
Não somos quem somos de qualquer jeito?
Olha, não sei você.
Mas sempre que eu sinto a garganta dar um nó
e o meu peito arder
por ter feito uma bobagem
não existe como esquecer.
E quem não esquece não repete.
Quem não repete, muda.
Muda pra sempre.
E eu? Eu tô sempre errando.
Deve ser exatamente por isso
que eu tô sempre mudando.
O remorso, a culpa
o arrependimento,
foram meus amigos íntimos
durante muito tempo.
Resolvi expulsar eles aqui de casa.
Mandei procurarem outro rumo.
Eles viviam me falando desses meus erros
mas agora eu já não os escondo,
eu assumo.
Com orgulho? Não é pra tanto.
Só que também não mais com vergonha.
Eu assumo com responsabilidade.
Com a coragem de dar a cara a tapa
e dizer pra todo mundo:
sim, eu não sou perfeito.
Quase que o contrário.
Mas essa palavra “vergonha”
resolvi riscar do meu dicionário.
Pois a vergonha nos faz querer esconder,
pra baixo do tapete varrer
e se algo fizer ela nos abraçar
automaticamente acabamos por a cabeça abaixar.
Eu já não abaixo a minha,
eu levanto pra enfrentar.
E quando alguém me pergunta:
– Você fez mesmo aquilo?
Sim. Eu respondo muito tranquilo.
E se me perguntam:
– Mas você não tem vergonha por ter feito?
A minha resposta é a seguinte:
– Não. Já passou, não tem outro jeito.
Quem eu era naquele momento
já não me representa mais.
Me tornei uma nova versão
que já não olha tanto pra trás.
Já me martirizei, já me arrependi.
Já quase morri de angustia,
já pensei até em sumir.
Mas hoje eu aprendi a me perdoar.
A me entender e me respeitar.
Não, nunca vou concordar
por ter errado tanto e tão feio.
Contudo descobri uma forma
de transformar meus erros em um meio.
Uma ferramenta. Uma escola.
Do meu passado já fui prisioneiro,
mas arrebentei as grades dessa gaiola.
E tipo um passarinho
voei para um novo caminho.
Eu sou uma pessoa de um passado nem tão bonito.
Não me orgulho, não acho bom,
porém não perco mais meu tempo ficando aflito.
Foi como tinha que ser.
E que bom que eu pude aprender.
Hoje posso falar com propriedade
que mesmo quem estraga tudo
pode se reencontrar na humildade.
Eu aprendi a ser mais humilde,
aprendi que o ego é meu inimigo.
E sempre que ele quer voltar a tomar o comando
aí sim, puxo as lembranças que trago comigo.
Lembro de todo o tempo perdido,
das chances desperdiçadas.
Lembro das amizades feridas
e das atitudes tão mal tomadas.
Sorrio. Me perdoo
e agradeço o aprendizado.
Por isso que
mesmo se eu pudesse voltar no tempo
e consertar os meus erros
eu não voltaria.
Pois se eu apagasse tudo que fiz errado
a pessoa que eu me tornei aprendendo
eu nunca conheceria.
Paulinho Rahs
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