Tenho a nítida impressão que o tempo nublado e chuvoso nunca mais vai embora da minha cidade. Parece que até a porcaria do clima sabe da nossa história! Faz frio e tenho a sensação clara que as cores estão pouco a pouco indo embora do mundo. É tudo acinzentado, cor de algema, cor de grade e de muro; muro de prisão.
A última noite quente da qual lembro bem foi aquela do nosso último beijo. Depois disso cada semana foi perdendo uma cor diferente. Primeiro foi o rosa, vibrante, dos seus lábios com batom; já não os vi mais pintados daquela forma. Depois o verde, de esperança, dos seus olhos com alegria; já não os vi mais procurando os meus como se pudessem me oferecer um sorriso.
Então pouco a pouco tudo foi se esvaindo: o azul do céu nas tardes, o vermelho do seu vestido que eu adorava, o laranja do pôr do sol que costumávamos assistir.
O branco, brilhante, que emanava dos meus dentes quando eu ainda conseguia sorrir. Desde que te vi no canto do bar beijando outros lábios eu já não sei o que é isso.
Ainda ando pelas mesmas ruas e as mesmas pessoas que vejo me deixam nauseado. Parece que todos são cúmplices da farsa que eu vivi e acreditei; você já não é mais minha, se é que foi um dia.
Eu aceito. O nó na minha garganta já me consome, mas eu aceito. Você me expulsou, me julgou, me usou e me estraçalhou.
Eu aceito tudo. Só te peço, então, que me liberte.
Paulinho Rahs
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