Precisamos falar sobre Walter Kannemann.

Bom, eu tô chegando nos 30. Devo viver, vamo lá, mais uns 60 aninhos aí.
Talvez um pouco menos, 50, sei lá, porque a gente gosta do que a vida tem de bom né.
E isso vem com um preço. O Grêmio me obriga a beber e aquela coisa toda, vocês sabem.

E de uma coisa eu tenho certeza absoluta: eu vou ser um véio muito chato cara.
Por ter visto todos esses caras que nós temos visto nos últimos 10 anos aí.
Porra, a gente viu toda a história do Renato treinador. Mais de 500 jogos.
A gente viu Geromel, Maicon, Luan, Grohe, por aí vai.

Mas a gente viu Walter Wally Kannemann.
El vikingo como chamavam os gringos lá do San Lorenzo
e qualquer perdoem meu espanhol, porque yo hablo pero no mucho.

É um privilégio e uma tristeza. Porque eu, pessoalmente, tenho certeza absoluta que vou viver mais umas 60 temporadas do Grêmio. Comemorar títulos de uns jogadores que os pais devem tá nascendo agora.

E eu nunca mais vou ver nenhum jogador que vou me identificar tanto quanto Walter Kannemann.

Eu tenho certeza. Zagueiro, gringo de alma castelhana, se bobear não dá 5 balãozinho. E me identifico porque eu também não dou. Mas uma entrega em campo que eu nunca mais vou ver igual.
O Kannemann é o jogador que eu gostaria de ter sido. Vejo meu sonho de criança de ser ídolo do Grêmio realizado nele.
E o Kannemann é a personificação do Grêmio. Se o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense fosse uma pessoa, poderia ser alguns nomes: Renato, claro. Danrlei. Tarciso. Lara. De León. Claro que sim.

Mas pra mim seria Walter Kannemann. Gaúcho, forasteiro, mas “gaucho” na sua essência.
Fez rincão de uma outra pátria, ainda que o mesmo pampa.

E em quase uma década de Grêmio eu nunca vi ele entrar em campo sem dar absolutamente tudo.
Eu vi ele em final de Libertadores e de Mundial. E eu vi ele na série B e na Recopa Gaúcha contra o Glória em Vacaria.

Sempre igual. E sempre no máximo. E isso é assustador. O cara faz o que qualquer torcedor do Grêmio gostaria de ter a chance de fazer. Entrar em campo e jogar como se fosse pra morrer pelo Grêmio.

E eu, até o dia de morrer – espero que daqui muitas décadas.
Vou me apoiar na minha bengalinha e falar pra uma gurizadinha que vai ter nascido lá em 2060.

Ah meu jovem, me desculpa não me deslumbrar com qualquer coisa.
É que eu vi Walter Kannemann.

Paulinho Rahs