Ela ri, mexe no cabelo e suas bochechas coram.
Ofereci um sorriso tímido, como sou. Um sorriso sem quase nem mostrar os dentes;
Queria que ela nem me notasse aqui. Há tempo que venho admirando-a, assim, em silêncio. O que acho mais engraçado – não que eu me divirta com isso – é que ninguém aqui sabe disso. Nem aqui e nem na China, sabe, como dizem por aí. Por uma dessas que eu não queria que ela notasse. Acho que fiquei olhando pra ela como um baita de um boboca, entregando o ouro assim de cara. Eu e essa minha maldita mania de fazer as coisas pelo avesso. Cara, eu queria entender como que pra alguns é tão fácil. Acho que tu me entende. Esse lance da conquista: chegar, falar, agradar o ambiente, contagiar e ganhar a disputa. Não faz meu perfil. Eu tô fora de órbita na real, eu sei disso.
Uma guria que nem ela no fundo deve me entender. Só que a disputa é desleal. Como que vou conseguir a admiração dela se é difícil pra mim o simples fato de dizer o que tanto ensaiei em frente ao espelho lá do meu banheiro? As coisas saem, assim, vacilantes. Sem nexo e sem sentido.
Ela ri, mexe no cabelo e suas bochechas coram.
Mas velho, vai saber se ela não vai me achar um pateta. Eu, o líder da galera, que fala, faz e acontece. Quando se trata dela, é tudo diferente. Queria saber mostrar o melhor de mim. Pra ficar bem claro que embarcar comigo é certeza de viagem boa. Que eu tô disposto a largar de lado esse meu jeito maluco e jogar limpo.
Olho ela sorrindo e fico perdido por um instante. Olhos verdes, cabelo castanho-escuro, sete letras no nome, fã de rock, assim, que nem eu. Ela é só uma menina e teve que passar por algumas coisas que eu, de passaporte todo carimbado, não sei se aguentaria a pressão. É complicado. Enxergo nela já uma mulher, ainda que com a meiguice de um sorriso infantil. Vejo os discos que ela escuta, me impressiono com os livros que ela lê. Tem horas que eu decido que vale a pena a tentativa. Foda-se todo o meu passado, meus amigos, as impressões que posso deixar. Fico extremamente decidido e digo a mim mesmo:
Vai, é agora! – colocando na cabeça que é hora de chamar ela e dizer tudo que faltou falar. Dizer que ela tem ao menos o direito de saber minha admiração por sua personalidade. Falar também que ela não tem nem noção de quanto combinamos e como poderia dar certo. Falar de sorrisos tímidos, discos do Foo Fighters, filmes do Downey Jr, olhos verdes, a guitarra do pai dela, o último jogo do Grêmio. É hora de colocar tudo pra fora.
Me aproximo dela, olho nos seus olhos, ofereço um sorriso tímido, como sou. Mas minhas pernas bambam:
O… Oi… – gaguejo.
Ela ri, mexe no cabelo e suas bochechas coram. De volta a estaca zero.
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